Quando se menciona poesia maldita, logo pensamos em Blake, Baudelaire, Rimbaud, Lautréamont, entre outros autores que fizeram da escrita uma ponte ligando as planícies da realidade aos penhascos do inconsciente e da loucura.
Ela soa como gemido, às vezes como grito de um estranho no ninho. Ao contrário das benditas, louva menos do que denuncia: sua aspiração é revelar, como o corvo de Poe, tanto o verso quanto o anverso de si – da vida e da morte, da superfície e dos subterrâneos.
A literatura, como a concebo, deve mexer com o leitor. Não basta divertir, muito pelo contrário. Naturalmente, ela deve empolgar, mas para que, no tempo devido, faça emergir o que jaz soterrado em cada um de nós. É o que pretendo fazer em Obra Maldita, ou melhor, o que Beatriz fez no meu lugar:
“De bruços, pensava na obra de vovô e no poder destrutivo dos livros. Quero crer que sua intenção ao escrever fosse outra, a de alertar. O estilo claro, direto e despretensioso facilita o entendimento. Não é uma escrita experimental, com aspirações estéticas revolucionárias. É apenas uma narrativa, humilde na forma e transparente no conteúdo.
Nem por isso, menos maldita.
Sua escrita lembra uma trama vista de ambas as faces do bordado. De frente, o mundo superficial, uma pintura figurativa que facilita o reconhecimento da paisagem e a compreensão do papel desempenhado pelos personagens. No avesso, linhas e cores formando uma algaravia sem sentido algum, a não ser talvez para quem o bordou. Mas não é essa a composição de todo bordado, a correspondência entre o anverso articulado e o verso confuso?
Não é, porém, a urdidura do traço que confere à obra seu caráter maldito, pelo menos não nesse caso. Sua trama revela e, ao revelar, funciona como um mapa. Para uns, da rota a ser evitada; para outros, do destino a ser alcançado. Eis sua maldição, ser lida por poucos e, dentre os poucos, ser levada a sério apenas pelos últimos.”
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